Verbete organizado
por:

Eliane Vasconcellos

 



Beatriz Francisca de Assis Brandão


Textos:

Soneto

Estas, que o meu Amor vos oferece,

Não tardas produções de fraco engenho,

Amadas Nacionais, sirvam de empenho

A talentos, que o vulgo desconhece.

Um exemplo talvez vos aparece

Em que brilheis nos traços, que desenho:

De excessivo louvor glória não tenho,

E se algum merecer de vós comece.

Raros dotes talvez vivem ocultos,

Que o receio de expor faz ignorados;

Sirvam de guia meus humildes cultos.

Mandei ao Pindo os vôos elevados,

E tantos sejam vossos versos cultos,

Que os meus nas trevas fiquem sepultados.

 

Soneto

Voa, suspiro meu, vai diligente,

Busca os Lares ditosos onde mora

O terno objeto, que minha alma adora,

Por quem tanta aflição meu peito sente.

Ao meu bem te avizinha docemente;

Não perturbes seu sono: nesta hora,

Em que a Amante fiel saudosa chora,

Durma talvez pacífico e contente.

Com os ares, que respira, te mistura;

Seu coração penetra; nele inspira

Sonhos de amor, imagens de ternura.

Apresenta-lhe a Amante, que delira;

Em seu cândido peito amor procura;

Vê se também por mim terno suspira.

 

Soneto

Meu coração palpita acelerado,

Exulta de prazer, de amor delira,

Novo alento meu peito já respira,

É mil vezes feliz o meu cuidado.

O meu Tirce de mim vive lembrado,

Saudoso, como eu, por mim suspira;

Que seleto prazer a esta alma inspira

A amorosa expressão do bem amado!

Doce prenda dos meus ternos amores,

Amada, suavíssima escritura,

Que em meu peito desterras vãos temores;

Em ígneos caracteres na alma pura

Grava, Amor, com os farpões abrasadores

Estes doces penhores da ternura.

 

Soneto

Que tens, meu coração? Porque ansioso

Te sinto palpitar continuamente?

Ora te abrasas em desejo ardente,

Outra hora gelas triste e duvidoso?

Uma vez te abalanças valeroso

A suportar da ausência o mal veemente;

Mas logo esmorecido, descontente,

Abandonas o passo perigoso?

Meu terno coração, ela, resiste,

Não desmaies, não tremas; pode um dia

Inda o Fado mudar o tempo triste.

Suporta da saudade a tirania,

Que ainda verás feliz, como já viste,

Raiar a linda face da alegria.