Soneto
Estas,
que o meu Amor vos oferece,
Não
tardas produções de fraco engenho,
Amadas
Nacionais, sirvam de empenho
A
talentos, que o vulgo desconhece.
Um
exemplo talvez vos aparece
Em
que brilheis nos traços, que desenho:
De
excessivo louvor glória não tenho,
E
se algum merecer de vós comece.
Raros
dotes talvez vivem ocultos,
Que
o receio de expor faz ignorados;
Sirvam
de guia meus humildes cultos.
Mandei
ao Pindo os vôos elevados,
E
tantos sejam vossos versos cultos,
Que
os meus nas trevas fiquem sepultados.
Soneto
Voa,
suspiro meu, vai diligente,
Busca
os Lares ditosos onde mora
O
terno objeto, que minha alma adora,
Por
quem tanta aflição meu peito sente.
Ao
meu bem te avizinha docemente;
Não
perturbes seu sono: nesta hora,
Em
que a Amante fiel saudosa chora,
Durma
talvez pacífico e contente.
Com
os ares, que respira, te mistura;
Seu
coração penetra; nele inspira
Sonhos
de amor, imagens de ternura.
Apresenta-lhe
a Amante, que delira;
Em
seu cândido peito amor procura;
Vê
se também por mim terno suspira.
Soneto
Meu
coração palpita acelerado,
Exulta
de prazer, de amor delira,
Novo
alento meu peito já respira,
É
mil vezes feliz o meu cuidado.
O
meu Tirce de mim vive lembrado,
Saudoso,
como eu, por mim suspira;
Que
seleto prazer a esta alma inspira
A
amorosa expressão do bem amado!
Doce
prenda dos meus ternos amores,
Amada,
suavíssima escritura,
Que
em meu peito desterras vãos temores;
Em
ígneos caracteres na alma pura
Grava,
Amor, com os farpões abrasadores
Estes
doces penhores da ternura.
Soneto
Que
tens, meu coração? Porque ansioso
Te
sinto palpitar continuamente?
Ora
te abrasas em desejo ardente,
Outra
hora gelas triste e duvidoso?
Uma
vez te abalanças valeroso
A
suportar da ausência o mal veemente;
Mas
logo esmorecido, descontente,
Abandonas
o passo perigoso?
Meu
terno coração, ela, resiste,
Não
desmaies, não tremas; pode um dia
Inda
o Fado mudar o tempo triste.
Suporta
da saudade a tirania,
Que
ainda verás feliz, como já viste,
Raiar
a linda face da alegria.