Verbete organizado
por:

Constância Lima Duarte

 



Carmen Vasconcelos


Textos:


Um lance de dados

(com nova licença do poeta)

Fosse origem estelar...

Malarmé

Sedendo vampiro é o acaso,

fazendo pender do galho, sem polpa,

a drupa ofendida.

Também eu, pendente da vida,

permaneço atada à intempestiva poesia,

indagação irrompida.

É o ofício de poeta engraxar emoções,

mas não disfarço a alma desbotada.

Meus olhos dragam de céu enormes camadas,

ávidos, e o acaso desaba

subitamente

fico imersa na dor silenciada

 

Flor da vida

Acorda de susto

com a força da pedrada

na janela.

A violência tem uma linguagem eremita.

Recolhe o vidro ensangüentado

a serpente emplumada, cria asas,

sai buscando a cova rasa

sobre a qual estão efervescendo vermes.

Todo o jardim é um estudo em vermelho,

relva com molho sangrento,

flores pendendo num bordado púrpura.

A serpente emplumada penetra na cova

onde dorme a menina triste.

É verme, é fada minúscula,

trançando os fios da sua sobrancelha.

A menina decomposta sorri,

goza o afago da vida

na morte. E aflora, aflora do corpo

da serpente emplumada a flora.

A flora da vida: frida.

 

Terceira cantiga de abril

Agora te conheço, amor perdido,

Macerando meu corpo animado e morto.

Agora te conheço, amor perdido,

Planando numa dessas folhas de vida.

Agora te conheço, amor perdido,

Súbito reverso dos meus ossos.

Agora te conheço, amor perdido,

Cinza de alumínio, câncer amarelecido,.

No entanto, padeço de liberdade. c