Um
lance de dados
(com
nova licença do poeta)
Fosse
origem estelar...
Malarmé
Sedendo vampiro
é o acaso,
fazendo pender
do galho, sem polpa,
a drupa ofendida.
Também
eu, pendente da vida,
permaneço
atada à intempestiva poesia,
indagação
irrompida.
É o
ofício de poeta engraxar emoções,
mas não
disfarço a alma desbotada.
Meus olhos
dragam de céu enormes camadas,
ávidos,
e o acaso desaba
subitamente
fico imersa
na dor silenciada
Flor
da vida
com
a força da pedrada
na
janela.
A
violência tem uma linguagem eremita.
Recolhe
o vidro ensangüentado
a
serpente emplumada, cria asas,
sai
buscando a cova rasa
sobre
a qual estão efervescendo vermes.
Todo
o jardim é um estudo em vermelho,
relva
com molho sangrento,
flores
pendendo num bordado púrpura.
A
serpente emplumada penetra na cova
onde
dorme a menina triste.
É
verme, é fada minúscula,
trançando
os fios da sua sobrancelha.
A
menina decomposta sorri,
goza
o afago da vida
na
morte. E aflora, aflora do corpo
da
serpente emplumada a flora.
A
flora da vida: frida.
Terceira
cantiga de abril
Agora
te conheço, amor perdido,
Macerando
meu corpo animado e morto.
Agora
te conheço, amor perdido,
Planando
numa dessas folhas de vida.
Agora
te conheço, amor perdido,
Súbito
reverso dos meus ossos.
Agora
te conheço, amor perdido,
Cinza
de alumínio, câncer amarelecido,.
No
entanto, padeço de liberdade. c