adolescência. Foi filha de
negros que, provavelmente, migraram do Desemboque para Sacramento
quando da mudança da economia da extração
de ouro para as atividades agro-pecuárias.
Carolina foi mãe
de três filhos: João José de Jesus, José
Carlos de Jesus e Vera Eunice de Jesus Lima. Faleceu em 13 de
Fevereiro de 1977, com 62 anos de idade e foi sepultada no Cemitério
da Vila Cipó, cerca de 40 Km do centro de São Paulo.
Quanto a sua escolaridade
em Sacramento, provavelmente foi matriculada em 1923, no Colégio
Allan Kardec, primeiro Colégio Espírita do Brasil,
fundado em 31 de Janeiro de 1907, por Eurípedes Barsanulfo.
Nessa época, as crianças pobres da cidade eram mantidas
no Colégio através da ajuda de pessoas influentes.
A benfeitora de Carolina Maria de Jesus foi a senhora Maria Leite
Monteiro de Barros, pessoa para quem a mãe de Carolina
trabalhava como lavadeira. No Colégio Allan Kardec Carolina
estudou pouco mais de dois anos. Toda sua educação
formal na leitura e escrita advêm deste pouco tempo de estudos.
Mesmo diante todas
as mazelas, perdas e discriminações que sofreu em
Sacramento, por ser negra e pobre, Carolina revela através
de sua escritura a importância do testemunho como meio de
denúncia sócio-política de uma cultura hegemônica
que exclui aqueles que lhe são alteridade.
A obra mais conhecida,
com tiragem inicial de dez mil exemplares esgotados na primeira
semana, e traduzida em 13 idiomas nos últimos 35 anos é
Quarto de Despejo. Essa obra resgata e delata uma
face da vida cultural brasileira quando do início da modernização
da cidade de São Paulo e da criação de suas
favelas. Face cruel e perversa, pouco conhecida e muito dissimulada,
resultado do temor que as elites vivenciam em tempos de perda
de hegemonia. Sem necessidade de precisarem as áreas de
onde vem os perigos, a elite que resguarda hegemonias não
suaviza atos e conseqüências quando ameaçadas
por "gente de fora" (leia-se, "gente de baixo").
Essa literatura documentária
de contestação, tal como foi conhecida e nomeada
pelo jornalismo de denúncia dos anos 50-60, é hoje
a literatura das vozes subalternas que enunciam-se, a partir dos
anos 70, pelos testemunhos narrativos femininos.
Segundo pesquisas
do professor Carlos Alberto Cerchi, Quarto de Despejo inspirou
diversas expressões artísticas como a letra do samba
"Quarto de Despejo" de B. Lobo; como o texto em debate
no livro "Eu te arrespondo Carolina" de Herculano
Neves; como a adaptação teatral de Edy Lima; como
o filme realizada pela Televisão Alemã, utilizando
a própria Carolina de Jesus como protagonista do filme
"Despertar de um sonho" (ainda inédito no Brasil);
e, finalmente, a adaptação para a série "Caso
Verdade" da Rede Globo de Televisão em 1983.
A obra de Carolina
Maria de Jesus é um referencial importante para os Estudos
Culturais, tanto no Brasil como no exterior.
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