EXCERTOS
Edelweiss
— O que farias
tu para me provares o teu grande afeto? — pergunta a loira Margarita
a seu enamorado Alberto!
— Oh ! se assim
te apraz, responde-lhe afoito o mancebo, subirei ao mais elevado
dos Alpes, e, com risco de minha própria vida, arrancarei
a flor que nasce em suas geleiras para depositar no teu seio como
troféu do meu incomparável amor!
— Pois bem; a
bela torna; vai; traze me o Edelweiss: eu te esperarei no vale.
Eil - o a escalar
a imensa cordilheira, suspenso por sobre o abismo que o fascina.
Lá viceja a linda flor; um instante mais, e colhê-la-á.
Estende a destra, firmando-se sobre a esquerda que segura fortemente
uma planta da montanha; agora sim: tocou-a, prendeu-a....mas,
no movimento que faz quebrando-a ao hastil, perde a segurança
e despenha-se na voragem profunda!
Um grito de dor
atroz reboou no vale; uma mulher parou a beira do precipício,
sua vista mediu-lhe a profundeza e a vertigem derrubou-a!
Só a Morte
— ciumenta cruel! — guardou no frio seio o precioso e fatal —
Edelweiss!
Ressuscitou!
Raiava o sol formoso,
deslumbrante,
abrindo pelos campos
as boninas,
e já as três
Marias vão distante
levando essênciasem
caçoilas finas.
Além, sobre
arvoredo verdejante
d'um horto que se
vê entre colinas
era o sepulcro (do
Divino Amante
que ora buscam as
santas peregrinas.
Eis chegam: do jazigo
a enorme lousa
que fecha o leito
em que o Senhor repousa,
alguém, com
mão sacrílega, afastou...
Do Mestre o corpo
ali não se encontrava!..,
Porém à
Magdalena que chorava,
um anjo diz: «Jesus
ressuscitou!»
O encontro
Com violência
bruta levantado
O Mártir pela
dor desfalecido,
Nem uma queixa tem,
nem um gemido
Do coração
em mágoas afogado.
A custo os olhos abre;
um "ai"magoado
Entre ameaças
chega-lhe dorido;
Volve o olhar sereno,
amortecido...
A mãe divisa
em pranto amargurado.
Ela os braços
lhe estende ... O Filho, ao vê-la
Nos braços
quer, embalde, recebê-la,
que mão cruel,
sacrílega os separa!
Do seio maternal explode
um grito :
Meu filho! ...e o
eco morre no Infinito,
Levando aos Céus
aquela dor amara ! ...
A vida
Vida! — o que és
tu ? ... na quadra da inocência,
para uns, — és
manhã auri-rosada;
para outros — aurora
rorejada
d’orvalhos de uma
noite de inclemência.
Quando desponta o
sol da adolescência,
e abre de amor a rosa
perfumada,
vida, — tu és
uma ilusão dourada,
ou és da realidade
a amarga essência!
Noite de luar de dúlcida
saudade,
ou de horror dessa
treva entristecida,
tu és, ó
vida, na postrema idade ...
Mas, sejas alva triste,
ou florescida,
dia, noite de dor
ou f’licidade,
Tu — do mortal és
sempre a cruz — ó vida !
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