A
víbora doidinha neste recinto
Vê
como se apressa a pequena víbora
como
se afoita nas brechas
e
fria se rende ao cálio buraco?
Ou
então, meu deus, atrás dos quadros
atrás
das velhas mães emolduradas
no
verso das paisagens penduradas
Percebe
como a víbora se aquece?
Quanto
me quis
por
tantas horas
raiz
viva da víbora ligeira
o
supremo princípio dessa avidez esquecida
e
a sutil chama fria a transgredir as paredes
E
assim cinzamente alvoraçada
passar
por aqui num ímpeto de silêncio fugidio
(mais
nada)
ah
de víboras e asas
vou
compor meu mel
para
comer com o pão desta vida
a
brasa..
Este
é teu corpo
Este é
teu corpo magro moreno
alegre e
tenso
O que nele
se ausculta
é
frêmito e tempo
O gosto
da cor espanta
porque nela
o mundo é chama
dança
porque nela
o tempo descansa
Este é
teu corpo
e tuas mãos
úmidas como as telhas
tuas mãos
parecem de barro
e o barro
parece que canta.
Poeta
perdendo a prece
Que
poderá o poema nesta noite pouca
em
que muito frágil e antiga
tento
em vão cobrir-me com uma túnica?
Que
poderá o poema contra o frio
contra
a nudez batendo sobre as coisas
e
minha cara refletida sobre o vidro?
Que
poderá ainda
contra
o rigor habitual dos edifícios
contra
pequenos hospícios e misérias
Que
poderá contra meu ódio
contra
minha inveja
e
a manhã que virá com luz fortíssima?
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