O gesto
de tirar os óculos, de apoiar a testa na mão
(como
para sustar a explosão das idéias e interiorizar-se)
O
ricto de autocomiseração (ou zombaria):
apertar
os lábios num sorriso seco e horizontal de máscara
O
medo do demônio e dos infernos
e
nenhuma convivência com um Deus que seja
O
pavor e o pudor: onipotência e técnica
de
preservar a intimidade dolorosa
A
neurose da aspirina, do relógio e do tempo
como
se o instante último fosse necessariamente aquele.
O
desejo de amor, a recusa do amor, o pecado no amor
e
a casuística fidelidade ao próprio amor
A
missão, a omissão e a ousadia da distância
na
rotineira ausência, intempestiva presença
O
degredo e o segredo: na tortura
pela
aspereza da dor invulnerável.
A
necessidade de confirmar-se se "compreende"
o
debate, aflição, a lucidez
A
dialética e a disciplina do poeta
e
o preconceito atávico da casta
O
compromisso ascético com a palavra:
salvação
e danação, perdição e deificação.
Me
lembrava da menina
escavacando
o chão agreste,
me
lembrava do menino
carregando
melancias.
Em
que terras desembocam
esses
talos de crianças
mais
finos que as maravilhas,
mais
fortes que a ventania?
Dois
pés descobriram casa,
multiplicaram-se
em hastes
—
são cabeleiras de trigo
dos
moinhos de Van-Gogh.
A
sobra dos dois irmãos
repartiu-se
entre os veleiros:
seu
tronco desarvorado
virou
estrelas no mar.