[Sem
título]
Amor
é um carpinteiro
Que
ri com ar de matreiro,
Cerrando
forte e ligeiro
Na tenda
do coração...
Com
toda a proficiência
Põe
pregos de resistência,
Ferrolhos
na consciência,
Tranca
as portas da razão
Só
Acercou-se
do leito em andar vagaroso:
Condenada
dir-se-ia a chegar ao degredo...
O vazio...
o abandono... o sossego penoso...
Na marmórea
brancura um funéreo lajedo!!...
Onde
a estância risonha, o país venturoso
dos
afagos sutis... da carícia em segredo...
Dos
seus dous corações o pulsar amoroso
De onde
a sorte cruel, a expulsara tão cedo?!...
Nesta
angústia, que espera esse olhar assim fito
No macio
colchão, na macia almofada,
Testemunhos
do amor que ora mata-a ora a encanta
Se tão
longe, tão longe! em lençóis do infinito
Prisioneiro
ele dorme em alcova isolada
Nesse
leito do qual ninguém mais se levanta?...
Maria
de Mágdala
Caída
ao pé da cruz: hirta, sombria...
Tem
no semblante a palidez dos círios,
Nos
lábios desmaiados, roxos lírios,
Quase
extinta do olhar a chama fria...
Solta
a roupagem morna descobria,
Da mágoa
a revelar cruéis delírios,
Fontes
de gozos, fontes de martírios,
Primores
que a madeixa em vão cobria...
"Mestre!
- soluça enfim desalentada,
Em torrentes
de lágrimas banhada,
Um derradeiro
olhar! Seja o perdão!... "
Entreabre
o Cristo a pálpebra cansada:
Disco
de luz coroa a transviada...
Ergue-te,
Santa! Amor é a Redenção!...
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