Verbete organizado
por:

Zahidé L. Muzart

 



Adelaide de Castro Alves Guimarães


Textos:

 

 

[Sem título]

Amor é um carpinteiro

Que ri com ar de matreiro,

Cerrando forte e ligeiro

Na tenda do coração...

Com toda a proficiência

Põe pregos de resistência,

Ferrolhos na consciência,

Tranca as portas da razão

 

 

Acercou-se do leito em andar vagaroso:

Condenada dir-se-ia a chegar ao degredo...

O vazio... o abandono... o sossego penoso...

Na marmórea brancura um funéreo lajedo!!...

Onde a estância risonha, o país venturoso

dos afagos sutis... da carícia em segredo...

Dos seus dous corações o pulsar amoroso

De onde a sorte cruel, a expulsara tão cedo?!...

Nesta angústia, que espera esse olhar assim fito

No macio colchão, na macia almofada,

Testemunhos do amor que ora mata-a ora a encanta

Se tão longe, tão longe! em lençóis do infinito

Prisioneiro ele dorme em alcova isolada

Nesse leito do qual ninguém mais se levanta?...

 

Maria de Mágdala

Caída ao pé da cruz: hirta, sombria...

Tem no semblante a palidez dos círios,

Nos lábios desmaiados, roxos lírios,

Quase extinta do olhar a chama fria...

Solta a roupagem morna descobria,

Da mágoa a revelar cruéis delírios,

Fontes de gozos, fontes de martírios,

Primores que a madeixa em vão cobria...

"Mestre! - soluça enfim desalentada,

Em torrentes de lágrimas banhada,

Um derradeiro olhar! Seja o perdão!... "

Entreabre o Cristo a pálpebra cansada:

Disco de luz coroa a transviada...

Ergue-te, Santa! Amor é a Redenção!...