Verbete organizado por Lúcia Helena Vianna

 

 



Cecilia Meireles


  Vida:


       “a vida só é possível reinventada”

1907 -  7 DE NOVEMBRO, Rio de Janeiro: nasce Cecília Meireles. Na Rua da Colina, Tijuca, Rio de Janeiro. Seus pais: Carlos Alberto de Carvalho Meireles e Matilde Benevides. Ele, funcionário do Banco do Brasil; ela, a mãe, professora municipal e bordadeira. Ambos morreram cedo: o pai, aos 26 anos, três meses antes do nascimento da filha;  a mãe faleceu quando Cecília  tinha três anos de idade. Cecília  foi educada pela avó materna, D. Jacinta Garcia Benevides, nascida nos Açores, Ilha de São Miguel.

1910 – Recebe seu primeiro prêmio das mãos do poeta Olavo Bilac, então Inspetor Escolar do Distrito Federal. Uma medalha de ouro, com nome gravado, por ter feito todo o  curso primário com “distinção e louvor” . Na adolescência se intensifica a paixão pelos livros e o gosto pelos estudos . Estuda história, línguas, filosofia e cultura oriental.

1917 – Diploma-se na Escola Normal (Instituto de Educação). Dedica-se ao magistério com amor. Seu interesse pelos rumos da Educação no país  é constante. Defende as idéias do professor Anísio Teixeira em prol de uma Nova Escola na coluna do jornal A Manhã.

1919 – O primeiro livro de versos, Espectros, recebe elogios de críticos como João Ribeiro.

1922 – Casa-se com Fernando Correia Dias, artista plástico português, capista de primeira, ilustrador e ceramista, conceituado no Brasil e em Portugal. Muito bem relacionado com a intelectualidade portuguesa, introduziu Cecília  nos meios literários de Portugal, onde a poeta fez grandes e duradouras amizades (José Osório de Oliveira, autor de uma História da Literatura Brasileira , Raquel Bastos, cantora lírica, Manuel Mendes, desenhista, os poetas Carlos  Queiroz e Almada Negreiros). Deste casamento nascem as três filhas do casal:  Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda, renomada atriz do teatro brasileiro.

1924 – Escreve Criança, meu amor, adotado nas escolas públicas municipais.

1929 – Editada a conferência “O espírito vitorioso” , apresentada no Concurso para vaga na cátedra de Literatura Brasileira, no Instituto de Educação.  Apesar da qualidade de sua tese, a escritora é preterida  por uma banca predisposta  a oferecer o cargo a alguém  reconhecidamente católico.

 1930-1934 – Desenvolve intensa atividade jornalística. Dirige uma página diária  sobre Educação no Diário de Notícias. Não poupa críticas ao Governo de Getúlio Vargas, em defesa de um novo modelo educacional.

1934 – Passa a dirigir  o Instituto Infantil, no Pavilhão Mourisco, em Botafogo. Com a colaboração do marido, cria a primeira Biblioteca Infantil da cidade. Neste mesmo viaja ao exterior, acompanhada do Correia Dias. Visita Portugal, onde desenvolve intensa atividade cultural , proferindo conferências e palestra em universidades de Lisboa e Coimbra.

1935 – Passa a lecionar Literatura Brasileira  na recém fundada Universidade do Distrito Federal (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro). Suicídio do marido em meio a forte crise de depressão.Cecília está viúva e só, com três filhas para criar.

1936-1939 – As dificuldades econômicas lhe exigem muito trabalho. Ministra cursos  de Técnica e Crítica Literária; sobre  Literatura comparada e Literatura Oriental. Escreve regularmente  nos jornais A Manhã, Correio paulistano e A Nação. E ainda trabalha no departamento de Imprensa e propaganda como responsável pela revista Travel in Brazil.

1938 – O livro Viagem recebe o Prêmio Poesia da Academia Brasileira de Letras. Apesar de Cecília   não ter  participado diretamente do movimento renovador das artes  nacionais, deflagrado pelos poetas e intelectuais paulistas,  com o evento da Semana de Arte Moderna (1922), recebe críticas muito elogiosas, tanto de Mario de Andrade quanto de Manuel Bandeira, figuras proeminentes do grupo. A poeta caminha para  a consagração nacional. O ano de 1938 é um ano de  restauração e ganhos na vida pública e na vida pessoal. Conhece o médico Heitor Grilo, com quem se casa no ano seguinte.  E viaja aos Estados Unidos, onde ministra curso de Literatura Brasileira, na Universidade do Texas, e ao México. 

1939Viagem é publicado em Portugal. Trata-se do primeiro grande livro da poeta. Reúne  84 poemas e 13 epigramas, simetricamente intercalados. Aí se encontram os principais motivos  de sua  lírica  : “a mais pura tradição lírica voltada  sobre si mesma, autotematizada.” (Eliane Zagury)

1940 – Volta aos Estados Unidos. Leciona Literatura  e Cultura Brasileiras, na Universidade do Texas. Faz conferências sobre literatura, folclore e educação no México.

1942 – Publica Vaga Música. No jornal A Manhã escreve  importantes estudos sobre folclore infantil.

1944 – Visita o Uruguai e a Argentina. Cecília  Meireles é dos primeiros intelectuais brasileiros a estreitar relações com escritores hispano-americanos. Tornou-se amiga da chilena Gabriela Mistral e de Antônio Machado, poeta mexicano.

1945 – Publica Mar Absoluto. Retorna aos temas definitivos: mar e solidão. Muda-se com a família para a casa do Cosme Velho, onde vive até o fim de seus dias.

1948 – É tratada como especialista pela Comissão Nacional de Folclore. Em 1951, secretaria o Primeiro Congresso Nacional de Folclore, no Rio Grande do Sul.

1949 -   Mais um livro: Retrato natural, que apresenta  uma poesia mais moderna e despojada. Sobressai no conjunto dos poemas a participação afetiva de Cecília  nas dores do mundo.

1951 -  Publica Amor em Leonoreta. Trabalha incansavelmente na pesquisa  sobre a história da Conjuração Mineira.

1952 – Recebe o Grau de Oficial da Ordem do Mérito , do Chile. É sócia do Gabinete Português de leitura e do Instituto Vasco da Gama, de Goa, Índia.  Lança Doze noturnos de Holanda & O Aeronauta.

1953 -  Sai afinal publicado o Romanceiro da Inconfidência, sua obra maior. Neste mesmo ano é convidada pelo primeiro ministro Nehru para o simpósio sobre a obra de Gandhi, na Índia, e recebe o título Doutor Honoris Causa pela Universidade de Deli. Compõe os Poemas escritos na Índia e da passagem pela Itália nascem os Poemas italianos.

1954 – Nova viagem à Europa. Retorna a Portugal e, enfim, visita os Açores, terra de sua avó Jacinta . Conhece o  grande amigo e correspondente fiel de longos anos, o poeta Armando Cortes-Rodrigues.

1956 – Publica Canções.

1957 – Viagem a Porto Rico.

1958 – Conferência em Israel. Visita aos lugares santos. Sua Obra Poética é publicada pela Editora José Aguilar.

1960 – Edição de Metal Rosicler.Acentua-se a presença da temática da morte.

1963Solombra, último livro publicado em vida, aprofunda a extrema melancolia e o sentimento de  partida “dos litorais humanos”.

1964 – Prepara um poema épico-lírico para as comemorações do quarto centenário do Rio de Janeiro, cidade que a viu nascer e que a acolherá para a eternidade.  Não resiste, porém, à doença contra a qual lutara durante seis anos, o câncer. Morre em 9 de novembro deste ano. Repousa no Cemitério São João Batista, túmulo de n. 8951. Deixa cinco netos: Ricardo (filho de Maria Elvira), Alexandre, Fernanda Maria e Maria de Fátima (filhos de Maria Matilde) e Luís Heitor Fernando (filho da atriz Maria Fernanda). O segundo marido, Heitor Grilo, morre em 1972.

1965 – A morte não encerra a grandiosa biografia da maior poetisa brasileira.  No ano em que a cidade do Rio de Janeiro comemorava o seu Quarto Centenário, a Academia Brasileira  confere-lhe o Prêmio Machado de Assis. Seus inéditos continuam a ser publicados. A sala de concertos da Escola de Música, recebe seu nome ( Sala Cecília Meireles). Poemas seus são musicados e cantados por cantores ilustres, no Brasil e em Portugal.