EXCERTOS
Saudade
Da vida na manhã
tudo é bonança,
Tudo é luz,
tudo flor, tudo harmonia:
São cantos
de suavíssima poesia,
Que nos embala em
sonhos de esperança.
Ri a ventura ao lábio
da criança;
Da mocidade a alegre
fantasia,
Escrava da ilusão
que a inebria,
Em vão busca
o prazer, em vão se cansa.
Passam os anos, e
com eles passam,
Uma por uma, todas
as quimeras.
Chegam invernos, fogem
primaveras...
Além no azul
do céu, onde esvoaçam,
Tristes saudades das
passadas eras,
São os sonhos
da vida que perpassam...
O mistério
Uma frase de luz que
nos fascina,
Um gesto retraído,
um rir medroso,
Um fundo olhar, buscando
o tenebroso
Mistério deste
ser que nos domina...
Um pensamento - águia
peregrina -
Incessante, a voar
vertiginoso...
Até encontrar
na inexorável ruína
Da suprema verdade
o intenso gozo...
Um contraste de força
e de fraqueza,
Tão grande
e ao mesmo tempo tão modesto
É um produto
gentil da natureza...
E esse mistério
é que nos deixa o mesto
Coração
todo imerso na tristeza
De saber o princípio
e não o resto...
A última
lágrima
Completamente só
e abandonada,
Sem um único
arrimo, sem conforto,
Tudo em torno de mim
é triste, é morto,
- Horrorosa lagoa
estagnada...
Digo adeus a esta
vida desgraçada.
Quebro a cadeia que
a gemer suporto.
Sem saudades, com
calma, não me importo
Para onde pela morte
sou levada...
Encontro em ti, oh!
lâmina assassina,
Único alívio
que a meu mal imploro,
O golpe com que a
morte me fulmina.
Um a um os martírios
rememoro
Deste acerbo sofrer
que hoje termina...
Esta é a última
lágrima que choro...
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