Verbete organizado
por:

Zahidé L. Muzart


 

 

 



Gabriela de Andrada


Textos:

 

EXCERTOS

Saudade

Da vida na manhã tudo é bonança,

Tudo é luz, tudo flor, tudo harmonia:

São cantos de suavíssima poesia,

Que nos embala em sonhos de esperança.

Ri a ventura ao lábio da criança;

Da mocidade a alegre fantasia,

Escrava da ilusão que a inebria,

Em vão busca o prazer, em vão se cansa.

Passam os anos, e com eles passam,

Uma por uma, todas as quimeras.

Chegam invernos, fogem primaveras...

Além no azul do céu, onde esvoaçam,

Tristes saudades das passadas eras,

São os sonhos da vida que perpassam...

O mistério

Uma frase de luz que nos fascina,

Um gesto retraído, um rir medroso,

Um fundo olhar, buscando o tenebroso

Mistério deste ser que nos domina...

Um pensamento - águia peregrina -

Incessante, a voar vertiginoso...

Até encontrar na inexorável ruína

Da suprema verdade o intenso gozo...

Um contraste de força e de fraqueza,

Tão grande e ao mesmo tempo tão modesto

É um produto gentil da natureza...

E esse mistério é que nos deixa o mesto

Coração todo imerso na tristeza

De saber o princípio e não o resto...

A última lágrima

Completamente só e abandonada,

Sem um único arrimo, sem conforto,

Tudo em torno de mim é triste, é morto,

- Horrorosa lagoa estagnada...

Digo adeus a esta vida desgraçada.

Quebro a cadeia que a gemer suporto.

Sem saudades, com calma, não me importo

Para onde pela morte sou levada...

Encontro em ti, oh! lâmina assassina,

Único alívio que a meu mal imploro,

O golpe com que a morte me fulmina.

Um a um os martírios rememoro

Deste acerbo sofrer que hoje termina...

Esta é a última lágrima que choro...