O que é a vida
Como do raio o lampejar
luzente
Desenha formas n’amplidão
do céu,
Assim da vida a empalecida
chama
Formas desenha n'um
mentido véu!
A vida, a vida, o
que é ela?
- Devesa curta e espinhosa,
Estéril por
natureza,
Sem luz, sem ar, sem
verdura!
Estrada de peregrinos
Que de cansaço
adormecem
No leito da desventura!
Tanta vaidade e luxúria,
Tanta malícia
na terra,
Só de vapores
formada!
- Ao sopro do Eterno
Deus
Tudo s'esvai n'um
momento!
Como do mar um lamento
Buscando abrigo nos
céus!
A vida, a vida, que
é ela,
Incauto e pobre mortal?
Apenas átomo
frágil
Da fina areia do chão?
A vida, a vida, que
é ela?
- Pálida sombra
de um dia
Levada pelo tufão!
Página solta
Queres saber quem
eu sou?
Meu nome queres saber?
Escuta! as brisas
se abraçam
Eu só não
devo gemer!
As brisas sabem meu
nome
Só tu não
deves saber.
Eu sou a folha de
um livro
Que tu não
deves voltar;
Sou um arcano, um
segredo
Que tu não
podes achar;
Sou uma nota distante
Que só te faço
chorar.
Eu sou a sombra doirada
De um tempo que já
lá foi;
Sou o fantasma de
um sonho
Que em tua mente pousou;
Sou uma folha sem
nome
Que o vento forte
mirrou.
Queres saber quem
eu sou?
Levanta a pedra gelada!
- Eu sou a alma de
um morto
Pela saudade velada
Que sigo ao longe
teus passos
Pela floresta crestada.
Últimas quadras
Nem uma gaivota paira
No azul triste dos
mares;
Tudo é silêncio
profundo
Tudo diz agros pesares.
3 de maio
Tantas noites de agonia
Tanto sonho espedaçado
Tantos dias sem valia;
Tanto sol desperdiçado.
4 de maio
Há vozes que
vibram,
Que vibram no peito
E lembram pesares
De um sonho desfeito.
Há vozes que
vibram
Que vibram no escuro
E lembram delícias
De um belo futuro
18 de
maio 1907
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