Verbete organizado
por:

Zahidé L. Muzart

 



Júlia da Costa


Textos:

O que é a vida

Como do raio o lampejar luzente

Desenha formas n’amplidão do céu,

Assim da vida a empalecida chama

Formas desenha n'um mentido véu!

A vida, a vida, o que é ela?

- Devesa curta e espinhosa,

Estéril por natureza,

Sem luz, sem ar, sem verdura!

Estrada de peregrinos

Que de cansaço adormecem

No leito da desventura!

Tanta vaidade e luxúria,

Tanta malícia na terra,

Só de vapores formada!

- Ao sopro do Eterno Deus

Tudo s'esvai n'um momento!

Como do mar um lamento

Buscando abrigo nos céus!

A vida, a vida, que é ela,

Incauto e pobre mortal?

Apenas átomo frágil

Da fina areia do chão?

A vida, a vida, que é ela?

- Pálida sombra de um dia

Levada pelo tufão!

Página solta

Queres saber quem eu sou?

Meu nome queres saber?

Escuta! as brisas se abraçam

Eu só não devo gemer!

As brisas sabem meu nome

Só tu não deves saber.

Eu sou a folha de um livro

Que tu não deves voltar;

Sou um arcano, um segredo

Que tu não podes achar;

Sou uma nota distante

Que só te faço chorar.

Eu sou a sombra doirada

De um tempo que já lá foi;

Sou o fantasma de um sonho

Que em tua mente pousou;

Sou uma folha sem nome

Que o vento forte mirrou.

Queres saber quem eu sou?

Levanta a pedra gelada!

- Eu sou a alma de um morto

Pela saudade velada

Que sigo ao longe teus passos

Pela floresta crestada.

Últimas quadras

Nem uma gaivota paira

No azul triste dos mares;

Tudo é silêncio profundo

Tudo diz agros pesares.

3 de maio

Tantas noites de agonia

Tanto sonho espedaçado

Tantos dias sem valia;

Tanto sol desperdiçado.

4 de maio

Há vozes que vibram,

Que vibram no peito

E lembram pesares

De um sonho desfeito.

Há vozes que vibram

Que vibram no escuro

E lembram delícias

De um belo futuro

18 de maio 1907