A Simonides
Quem sou eu? d'onde vim? Ah! que te impele
a vir assim de chofre interrogar-me?
se a sombra me seduz!
Responder-te não posso; não! não ouso!
a viver bem oculta em densas trevas,
– meu gosto se reduz!
Podes crer que essa chama que abre ao homem
os amplos horizontes tão floridos
só ele a alimente?
Duvidas que em meu peito se reflita
do teu estro imortal somente um átomo?
– És cruel realmente!
Estranho que n'um século progressista,
a mulher consideres nulidade,
incapaz de escrever!
Deveras ressentida me convenço
que é mister desprezar a frágil pena...
e desaparecer.
Não tentes desvendar negro mistério;
deixa que a noite encubra o triste nome,
nome que luz não quer!
Algum dia o Acaso me apontando,
te dirá com acento triunfante:
– não é homem... é mulher!
Quem sou eu? que desejo? que te impele
a vir assim de chofre interrogar-me?
se a sombra me seduz!
Sou um ser que da vida se aborrece...
Que desejo? viver desconhecida!...
detesto o sol, a luz!
Salve! Século XX!
Garboso, sorridente e altaneiro
ao mundo o século vinte se apresenta,
e o mundo ao saudá-lo a crença aumenta
de ser ele de glórias mensageiro.
Que traga bem-estar, tranqüilidade,
unindo em um abraço colossal,
amistoso, sincero e fraternal
os membros dessa grande humanidade!
Que farto e refulgente traga inventos
que atestam do progresso o esplendor,
levando ao apogeu raros talentos!
Trazendo para fé, grande vigor
ao homem p' ra reais cometimentos,
terá na História um brado louvor!