Verbete organizado
por:

Valéria Andrade Souto-Maior

 



Maria Ribeiro


Vida:

Dramaturga (Angra dos Reis, 1829 – Rio de Janeiro, 1880), literariamente conhecida como Maria Ribeiro, seu nome de batismo era Maria

Angélica de Sousa Rego, filha de Maria Leopoldina de Sousa Rego e Marcelino de Sousa Rego, ambos de ascendência nobre. Moço fidalgo da Real Casa de D. João VI e Capitão condecorado por atos de bravura em campo de batalha, seu pai morreu em serviço, deixando-a órfã antes dos 5 anos de idade. Seu tutor o Brigadeiro Bracet, antigo companheiro de armas de seu pai, impressionado com sua inteligência incomum, encarregou-se de dar-lhe uma educação mais aprimorada que a recebida pelas meninas da época. Aos 14 anos, casou-se com seu professor de desenho, João Caetano Ribeiro, que mais tarde alcançaria renome como cenógrafo.

Tendo iniciado sua atividade literária ainda na adolescência, pouco depois chegou a colaborar em algumas revistas, sob o pseudônimo de Nenia Silvia. Contudo, só após os 25 anos passou a investir efetivamente numa carreira literária. Foi em 1855 que escreveu a primeira das mais de vinte peças que compõem sua obra dramática. Em sua maior parte ainda hoje inéditas, suas peças estão, ao que parece, irremediavelmente perdida – seus originais foram destruídos pelo incêndio ocorrido no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.

Quando de sua estréia pública com a encenação do drama Gabriela, em 1863, no Ginásio Dramático – um dos mais afamados teatros do Rio de Janeiro na época – já havia escrito cerca de 15 peças. Bem acolhida pelo público e pela crítica, dois anos depois teria outro drama seu, Cancros sociais, encenado no mesmo teatro. Aplaudida calorosamente pelo público e pela imprensa local – cujos comentários mais destacados foram assinados por Machado de Assis – essa peça alcançou 8 récitas seguidas após a estréia, além de outras nos meses seguintes, tornando seu nome conhecido e, sobretudo, prestigiado no ambiente teatral da época como até então nenhum outro nome feminino o fora.

Após esse sucesso, prosseguiu escrevendo, publicando e encenando suas peças. Além dos dramas Cancros sociais (1866) e Gabriela (1868), publicou as comédias Um dia na opulência e Ressurreição do Primo Basílio, respectivamente em 1877 e 1878; e em 1879 seu drama Opinião pública foi levado ao Teatro São Luís.

Fundamentalmente preocupada com a situação opressiva vivida por suas contemporâneas, em suas peças expõe suas idéias e reivindicações sobre a realidade social, como também protesta, embora quase sempre implicitamente, contra o cerceamento social sofrido pelas mulheres. No seu drama abolicionista Cancros sociais, por exemplo, além da crítica à escravidão, Maria Ribeiro advoga a causa da mulher escrava e, posicionando-se a favor da idéia de que o desquite não significava a perda das virtudes femininas, não hesita em apontar os homens como causa primeira dos erros da mulher.

Sua contribuição à história da dramaturgia brasileira, em particular à de autoria feminina, impõe-se como notável especialmente por ter forçado pioneiramente a abertura de um espaço público para as mulheres, propiciando-lhes o desempenho do novo papel social de dramaturga.