para
Diógenes da Cunha Lima
Mais que
amor e paz
quero a
certeza de não morrer no exílio
sem ter
esquecido os primeiros amores nem
poder viver
o último.
Quero morrer
quite com a vida.
Não
repassar dores e erros recíprocos.
Quero também
a certeza de que o tempo
avaliará
e considerará o que de fato fui e pensei.
Fiz tudo
o que me coube.
Inútil
pedir-me para mudar o destino e
atirar ao
lixo a rosa vermelha... Ou voltar atrás
para morrer
publicamente diante do poeta que sei
não
precisa de minha morte para escrever novo livro.
Uma vez
que vivo intensamente, quero morrer
diante da
vida e que este momento seja só meu.
Mais que
amor e paz quero amor e paz.
O incidente
aconteceu e está encerrado.
Retirei-me
de um jogo
no qual
sou carta batida numa partida automobilística.
Além
da distância existente entre a sua e a cidade
que escolhi
para exilar-me, existe
a nossa
própria distância.
Porém,
sem perder de vista a cidadela
que nos
faz conterrâneos e escritores,
não
quero essa distância que aparentemente é necessária.
Um dia voltarei,
todo exilado um dia volta.
Enquanto
não chega este dia,
escondo-me
num front, e dele fico a atirar palavras...
Para os
adversários, sou sarcástica e até agressiva.
Para os
companheiros, procuro as mais afetuosas letras.
Para você,
por exemplo, encontrei o A de AMIGOS.
Apesar das
feridas e cicatrizes, continuo na luta
e a arma
ainda é a palavra.
O meu posto
fica a 100 metros da Baía que
assistiu
os 18 do Front.
A vida tem
sido aos poucos: um cigarro após outro,
o sexo no
guarda — roupa e o desejo em repouso.
Nada de
cerveja ou cachaça.
Notícias
ou visitas de amigos e familiares,
Maiacóvski
e Drummond nos intervalos,
Chico para
acordar ou dormir e,
porque hoje
é domingo,
o telefone
esperado.
O dia-a-dia
sem hora para o trabalho,
porém
o médico e a literatura
para hoje
e amanhã, pois o momento político é outro.
Não
é ainda o que quero, mas esse país um dia
cumprirá
seu destino brasileiro.
Às
vezes, sinto-me terrivelmente só.
Mas no meu
caso não é novidade viver só.