Verbete organizado
por:

Constância Lima Duarte e Diva Cunha

 



Maria do Socorro Trindad


Textos:


Até sábado

Por esse amor que quebrará grilhões

teriam que libertar as nossas vidas.

Por essas vidas que gerarão outras vidas

teriam que matar a morte. Ou a sorte.

Porque o amor nasce e é urgente.

O que mais?

Venho de outros braços.

Não sei pra onde vou. Mas vou

Se eu não chegar hoje,

até amanhã. Ou depois. Talvez sábado.


 

Canção do Exílio

(Versão poética)

para Diógenes da Cunha Lima

Mais que amor e paz

quero a certeza de não morrer no exílio

sem ter esquecido os primeiros amores nem

poder viver o último.

Quero morrer quite com a vida.

Não repassar dores e erros recíprocos.

Quero também a certeza de que o tempo

avaliará e considerará o que de fato fui e pensei.

Fiz tudo o que me coube.

Inútil pedir-me para mudar o destino e

atirar ao lixo a rosa vermelha... Ou voltar atrás

para morrer publicamente diante do poeta que sei

não precisa de minha morte para escrever novo livro.

Uma vez que vivo intensamente, quero morrer

diante da vida e que este momento seja só meu.

Mais que amor e paz quero amor e paz.

O incidente aconteceu e está encerrado.

Retirei-me de um jogo

no qual sou carta batida numa partida automobilística.

Além da distância existente entre a sua e a cidade

que escolhi para exilar-me, existe

a nossa própria distância.

Porém, sem perder de vista a cidadela

que nos faz conterrâneos e escritores,

não quero essa distância que aparentemente é necessária.

Um dia voltarei, todo exilado um dia volta.

Enquanto não chega este dia,

escondo-me num front, e dele fico a atirar palavras...

Para os adversários, sou sarcástica e até agressiva.

Para os companheiros, procuro as mais afetuosas letras.

Para você, por exemplo, encontrei o A de AMIGOS.

Apesar das feridas e cicatrizes, continuo na luta

e a arma ainda é a palavra.

O meu posto fica a 100 metros da Baía que

assistiu os 18 do Front.

A vida tem sido aos poucos: um cigarro após outro,

o sexo no guarda — roupa e o desejo em repouso.

Nada de cerveja ou cachaça.

Notícias ou visitas de amigos e familiares,

Maiacóvski e Drummond nos intervalos,

Chico para acordar ou dormir e,

porque hoje é domingo,

o telefone esperado.

O dia-a-dia sem hora para o trabalho,

porém o médico e a literatura

para hoje e amanhã, pois o momento político é outro.

Não é ainda o que quero, mas esse país um dia

cumprirá seu destino brasileiro.

Às vezes, sinto-me terrivelmente só.

Mas no meu caso não é novidade viver só.