Verbete organizado
por:

Sylvia P. Paixão

 



Narcisa Amália de Campos


Textos:

 

EXCERTOS

Resignação

No silêncio das noites perfumosas,

Quando a vaga chorando beija a praia,

Aos trêmulos rutilos das estrelas,

Inclino a triste fronte que desmaia.

E vejo o perpassar das sombras castas

Dos delírios da leda mocidade;

Comprimo o coração despedaçado

Pela garra cruenta da saudade.

Como é doce a lembrança desse tempo

Em que o chão da existência era de flores,

Quando entoava o múrmur das esferas

A copla tentadora dos amores!

Eu voava feliz nos ínvios serros

Empós das borboletas matizadas...

Era tão pura a abóbada do elísio

Pendida sobre as veigas rociadas!...

Hoje escalda-me os lábios riso insano,

É febre o brilho ardente de meus olhos:

Minha voz só retumba em ai plangente,

Só juncam minha senda agros abrolhos.

Mas que importa esta dor que me acabrunha,

Que separa-me dos cânticos ruidosos,

Se nas asas gentis da poesia

Eleva-me a outros mundos mais formosos?!...

Do céu azul, da flor, da névoa errante,

De fantásticos seres, de perfumes,

Criou-me regiões cheias de encanto,

Que a luz doura de suaves lumes!

No silêncio das noites perfumosas

Quando a vaga chorando beija a praia,

Ela ensina-me a orar, tímida e crente,

Aquece-me a esperança que desmaia.

Oh! Bendita esta dor que me acabrunha,

Que separa-me dos cânticos ruidosos,

De longe vejo as turbas que deliram,

E perdem-se em desvios tortuosos!...

 

Por que Sou Forte

a Ezequiel Freire

Dirás que é falso. Não. É certo. Desço

Ao fundo d’alma toda vez que hesito...

Cada vez que uma lágrima ou que um grito

Trai-me a angústia - ao sentir que desfaleço...

E toda assombro, toda amor, confesso,

O limiar desse país bendito

Cruzo: - aguardam-me as festas do infinito!

O horror da vida, deslumbrada, esqueço!

É que há dentro vales, céus, alturas,

Que o olhar do mundo não macula, a terna

Lua, flores, queridas criaturas,

E soa em cada moita, em cada gruta,

A sinfonia da paixão eterna!...

- E eis-me de novo forte para a luta.

Resende, 7.9.1886.

"Suponho ter sido eu, no Brasil, quem primeiro ergueu a voz clamante contra o estado de ignorância e de abatimento em que jazíamos, em artigos que denominei - ‘A mulher no séc. XIX’ e ‘A emancipação da mulher’"

"A essa voz, antes - magoado queixume de vítima em hora de desfalecimento profundo, que alarmante brado de revolta, responderam-me menos delicadamente alguns cavalheiros da imprensa paulista (...), recearam, porventura, que, a um meu aceno, suas esposas abandonassem o pot au feu e, tomando o bordão de peregrinas, marchassem em demanda da terra da emancipação (...)"

"Ao exemplo dos banhistas, no mar, ao vir a onda, mergulhei para deixar passar o vagalhão dos protestos (...) Mas... colheu-me de surpresa a nevrose cardíaca, enfraquecendo-me a energia, inutilizando-me absolutamente para as rudes lutas da inteligência, para as pugnas incruentas, mas extenuantes, da imprensa..." [In A Família. Rio de Janeiro, 31 dez. 1889, p. 6.]