EXCERTOS
Resignação
No silêncio das noites perfumosas,
Quando a vaga chorando beija a
praia,
Aos trêmulos rutilos das
estrelas,
Inclino a triste fronte que desmaia.
E vejo o perpassar das sombras
castas
Dos delírios da leda mocidade;
Comprimo o coração
despedaçado
Pela garra cruenta da saudade.
Como é doce a lembrança
desse tempo
Em que o chão da existência
era de flores,
Quando entoava o múrmur
das esferas
A copla tentadora dos amores!
Eu voava feliz nos ínvios
serros
Empós das borboletas matizadas...
Era tão pura a abóbada
do elísio
Pendida sobre as veigas rociadas!...
Hoje escalda-me os lábios
riso insano,
É febre o brilho ardente
de meus olhos:
Minha voz só retumba em
ai plangente,
Só juncam minha senda agros
abrolhos.
Mas que importa esta dor que me
acabrunha,
Que separa-me dos cânticos
ruidosos,
Se nas asas gentis da poesia
Eleva-me a outros mundos mais formosos?!...
Do céu azul, da flor, da
névoa errante,
De fantásticos seres, de
perfumes,
Criou-me regiões cheias
de encanto,
Que a luz doura de suaves lumes!
No silêncio das noites perfumosas
Quando a vaga chorando beija a
praia,
Ela ensina-me a orar, tímida
e crente,
Aquece-me a esperança que
desmaia.
Oh! Bendita esta dor que me acabrunha,
Que separa-me dos cânticos
ruidosos,
De longe vejo as turbas que deliram,
E perdem-se em desvios tortuosos!...
Por que Sou Forte
a Ezequiel Freire
Dirás que é falso.
Não. É certo. Desço
Ao fundo d’alma toda vez que hesito...
Cada vez que uma lágrima
ou que um grito
Trai-me a angústia - ao
sentir que desfaleço...
E toda assombro, toda amor, confesso,
O limiar desse país bendito
Cruzo: - aguardam-me as festas
do infinito!
O horror da vida, deslumbrada,
esqueço!
É que há dentro vales,
céus, alturas,
Que o olhar do mundo não
macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,
E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!...
- E eis-me de novo forte para a
luta.
Resende, 7.9.1886.