Verbete organizado
por:

Anselmo Peres Alós

 



Patrícia Rehder Galvão (Pagu) 

 

Vida:

              

                Nasceu em São Paulo, no dia 14 de julho de 1910, a celebrada musa do Movimento Antropofágico. Em 1915 surgem suas primeiras publicações no Brás Jornal, sob o codinome Patsy. No mesmo ano, freqüenta, além da Escola Normal, o Conservatório Dramático e musical de São Paulo, no qual lecionavam Mário de Andrade e Fernando Mendes de Almeida. De acordo com Augusto de Campos (1982, p. 320), o apelido Pagu foi dado por Raul Bopp a Patrícia Galvão. Em dado momento, Patrícia teria mostrado a Raul alguns poemas e, na mesma ocasião, o poeta sugeriu que ela adotasse um “nome de guerra” literário. Sugeriu Pagu, brincando com as sílabas do nome da escritora, que Bopp equivocadamente acreditava se chamar Patrícia Goulart.

 

                Contrariando o mito, Pagu não participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Tal como afirma Ferraz (1994:15), a escritora tinha apenas 12 anos nessa ocasião. Contudo, participou da ala dissidente e esquerdista do Movimento Antropofágico. A partir de 1929, começa a colaborar com a Revista Antropofágica.

 

                Pagu ingressa no Partido Comunista em 1931. Em 23 de agosto do mesmo ano, é presa como agitadora, em Santos (SP), por participar de um comício na Praça da República em homenagem a Sacco e Vanzetti, por ocasião da greve dos estivadores. Expoente de grau máximo da luta social de sua época, Pagu foi a primeira mulher brasileira a tornar-se presa política.

 

                Sob o pseudônimo de Mara Lobo, Patrícia Galvão publica, em 1933, a novela Parque industrial. O pseudônimo foi adotado por exigência do Partido Comunista, no qual militava. Ao contrário da vertente regionalista de 30, Pagu trata de um Brasil urbano, em pleno processo de industrialização, e de uma problemática de classe, envolvendo uma classe média de valores burgueses e um proletariado que, embora explorado, não se cala frente à opressão.

 

                Após a publicação de Parque industrial (uma tiragem limitada, praticamente artesanal), Pagu cruza o mundo, passando pelos Estados Unidos, Mandchúria, Rússia, Moscou, e França. Durante todo esse tempo escreve, mandando constantemente colaborações para jornais paulistas e fluminenses. Em Paris, filia-se ao PC francês, conhecendo Aragon, Éluard e Péret. Foi presa em 1935, desta vez pelo governo Laval, como militante comunista estrangeira. Na iminência de ser submetida a Conselho de Guerra ou deportada para a fronteira da Itália ou Alemanha, foi identificada pelo embaixador Souza Dantas, que consegue a repatriação de Pagu. Em 1945, já no Brasil, publica A famosa revista, escrito em parceria com Geraldo Ferraz.

 

                Curiosamente, a participação de Pagu no desenvolvimento econômico do país, embora de dimensões gigantescas, foi esquecido. Graças a Pagu e a Raul Bopp (chefe do consulado do Brasil em Kobe de 1932 a 1934), sementes de feijão-soja foram solicitadas ao imperador japonês Pu-Yi e encaminhadas para o Brasil, através do embaixador Alencastro Guimarães. Assim, Patrícia Galvão marca sua presença na vida brasileira não apenas através de sua vida política e de suas contribuições culturais, mas também mostrando-se uma das responsáveis pela introdução de uma nova espécie agrícola, de grande importância para o país.

 

                A escritora tenta o suicídio, em 1949, com um tiro na cabeça. Escreve sobre isso em Verdade e Liberdade, panfleto de 1950: “Uma bala ficou para trás, entre gazes e lembranças estraçalhadas”. Em fins de setembro de 1962, viaja para Paris, na intenção de submeter-se a uma intervenção cirúrgica com o professor Dubosc, na sala Poirier, do Hospital Laennec. A cirurgia não apresenta grandes resultados, o que leva Pagu a tentar novamente o suicídio. Retorna ao Brasil, em companhia de Geraldo Ferraz. Morre a 12 de dezembro de 1962, em Santos, sendo enterrada no cemitério do Saboó.