Eu
                Sou só e sou eu mesma. O 
                  que pensem e digam
                os demais, nada importa; eu tenho 
                  a minha lei.
                Que outros a multidão, covardemente, 
                  sigam,
                pelo caminho oposto, altiva, eu 
                  seguirei.
                Que, sem brio e vergonha, outros 
                  tudo consigam
                e que zombem de mim porque nada 
                  alcancei;
                quanto mais, com seu ódio, 
                  o meu nome persigam,
                tanto mais orgulhosa em trazê-lo, 
                  serei.
                As pedradas não fujo e as 
                  tormentas aceito;
                mas a espinha não curvo 
                  em prol de algum proveito,
                minha atitude sempre a mesma se 
                  revela;
                a mim mesma fiel, a minha fé 
                  não traio;
                e, se em dia fatal ferida pelo 
                  raio,
                tombar minha bandeira, eu tombarei 
                  com ela!
                  
                A carne
                Exiges. É ciumenta e egoísta. 
                  Não admites
                qualquer rivalidade, ou que algo 
                  te suplante.
                És forte e audaz no teu 
                  domínio sem limites …
                capaz de transformar a vida num 
                  instante,
                És mísera e brutal. 
                  Mas, nada obsta que agites
                e açambaques o mundo, e 
                  que essa alucinante
                e estranha sensação 
                  que aos humanos transmites,
                tenha, como nenhuma, um halo deslumbrante.
                Oh, carne que possuis no teu imo 
                  maldito
                mais lodo que contém num 
                  charco pantanoso,
                mais esplendor, também, 
                  que os astros do Infinito …
                Rugindo de volúpia e de 
                  sensualidade,
                espalhando na terra apoteoses de 
                  gozo,
                ó, carne, serás tu 
                  a única verdade?
                Saudade (Trovas)
                A saudade é uma andorinha, 
                  
                mas uma andorinha estranha: 
                quando, num peito se aninha, 
                as outras não acompanha…
                	*
                Saudade – coisa que a gente
                não explica nem traduz;
                faz do passado, presente,
                e traz sombras, sendo luz…
                	*
                Saudade – febre que a gente
                sem querer, pode apanhar,
                nunca mata de repente,
                vai matando, devagar…
                	*
                Saudade – a princípio é 
                  pena
                que nos deixa uma partida;
                depois é dor que condena
                a morrer dentro da vida…
                	*
                se é triste sentir saudade,
                muita saudade de alguém,
                maior infelicidade
                é não tê-la 
                  de ninguém.
                 
                Intimidade
                Toda alcova em penumbra. Em desalinho 
                  o leito, 
                onde, nus, o meu corpo e o teu 
                  corpo, estirados 
                na fadiga que vem do gozo satisfeito, 
                  
                descansam do prazer, felizes, irmanados.
                Tendo a minha cabeça encostada 
                  ao teu peito, 
                e, acariciando os meus cabelos 
                  desmanchados, 
                és tão meu…Sou tão 
                  tua. Ainda sob o efeito 
                da louca embriaguez dos momentos 
                  passados.
                Porém, na tua carne insaciável, 
                  ardente, 
                o desejo reacende, estua…E, de 
                  repente, 
                dos meus seios em flor beijas a 
                  rósea ponta…
                E se unem outra vez a lúbrica 
                  bacante 
                do meu ser e o teu sexo impávido, 
                  possante, 
                na comunhão sensual das 
                  delícias sem conta…