Zeli de Oliveira
Barbosa
Vida:
Em 1960 foi publicado o livro Quarto de despejo: diário
de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, sucesso editorial
que em pouco tempo alcançou o público estrangeiro, sendo
traduzido para mais de dez idiomas. Na mesma época, em Porto
Alegre, mais especificamente na favela da Ilhota, Zeli de Oliveira
Barbosa, sem qualquer conhecimento dos escritos de Carolina de
Jesus, também passava por imensas dificuldades e, alguns anos
mais tarde, registraria suas memórias no papel.
Zeli é a segunda voz que desponta da Ilhota que se faz
escutar pela metrópole; a primeira nasceu em 1914 e tornou-se
conhecida por cantar a boêmia da cidade. Essa voz,
pertencente a um compositor hoje conhecido por todo o país,
atende pelo nome de Lupicínio Rodrigues. Mas, ao contrário da
dor-de-cotovelo cantada nos versos do saudoso Lupi, o texto de
Zeli toma a forma de uma autobiografia, na qual se mesclam o
inusitado, o grotesco e o humano, retratando um cenário
porto-alegrense pouco conhecido pela classe média.
Através de uma linguagem que segue a (não)linearidade dos
próprios pensamentos, Zeli possui um estilo entrecortado,
coloquial e fluido, onde idéias e impressões são intercaladas
de forma a relatar a violência, os casos inusitados e as
dificuldades pelas quais passou na favela da Ilhota. Suas
considerações refletem a ética da favela, a precariedade da saúde
e as dificuldades sofridas para concretizar a educação dos
filhos, apontando uma narradora em constante embate com o meio no
qual vive. E, tal como Lupicínio Rodrigues em suas composições,
Zeli consegue, de uma maneira inacreditável, extrair da favela
aquele lirismo bandido, já mencionado por Paulo Pontes e Chico
Buarque como “um certo gosto pela própria marginalidade”.
|