Verbete organizado
por:

Luísa Cristina dos Santos

 



Georgina Mongruel

 

Vida:

A professora, musicista, compositora e poetisa Georgine Catherine Eugenie Léonard Mongruel nasceu a 1.° de abril de 1861 em Charleroi, pequena cidade às margens do rio Sambre, na Bélgica. Era filha do dr. Léon Léonard, médico e engenheiro mecânico, e de dona Emma Eugénie Bernard Léonard (descendente do fisiologista Claude Bernard). Com apenas três dias de vida, Georgina ficou órfã de mãe.

Seu pai então, achou por bem, entregá-la aos cuidados de uma irmã. Para ficar ao lado da filha, o dr. Léon assumiu o cargo de Diretor e Engenheiro-Chefe das Grandes Usinas da Estrada de Ferro Central de Bruxelas, atividade que proporcionou à Georgina freqüentes viagens para acompanhá-lo. Em 1879, o dr. Léonard faleceu, deixando Georgina com 18 anos.

Conforme depoimento de Jacques Mongruel (filho de Georgina), o dr. Léon, muito severo com sua filha peralta, aplicava-lhe castigos, como fechá-la num quarto para copiar páginas e páginas de prosa e poesia de autores clássicos. Inconscientemente, acaba incentivando a talentosa Georgina a escrever versos. Quando, um dia, exibiu-lhe, toda feliz, um pequeno poema, foi asperamente proibida de versificar. Fato considerado uma leviandade. Queria que sua filha se aprofundasse no estudo das ciências, da filosofia, dos idiomas.

Sendo assim, deu-lhe uma nurse inglesa e Georgina aprendeu a falar o inglês; depois, uma fraulein alemã e a menina falou alemão. O inglês foi sendo esquecido por falta de uso, mas o alemão serviu muito a ela, no Paraná, onde encontrou grande colônia germânica.

Sob a tutela de seu avô, prosseguiu apurada formação em música e belas artes. Ao completar 21 anos, Georgina diplomou-se na Escola de Música e Belas Artes de Paris. Então, retornou a Bruxelas, ingressando para a Universidade de Mons, Bélgica, onde estudou Matemática e Humanidades, formando-se com 24 anos (1885). No mesmo ano, passou a trabalhar como redatora dos jornais: “Moniteur Universel”, de Bruxelas, e do “Mercure de France”.

Em recepção realizada em Bruxelas, Georgina conheceu o Coronel                                        Hyacinthe Dieudonné Lemoine, Chefe da Missão Militar Francesa que, encantado com sua beleza e formação, propôs-lhe casamento. Casaram-se ainda em 1885. No ano seguinte, nasceu o primeiro filho do casal: Georges . Em 1889, dona Georgina enviuvou.

Um novo casamento (1890) traçou-lhe o destino do Brasil, em companhia do marido, o engenheiro e comerciante parisiense Maurice Émile Mongruel. Este, que sabia o espanhol, achava-se empolgado pela fama dos negócios com o café no Brasil, por esta razão, vieram a se fixar em São Paulo, no começo de 1891. Em São Paulo, nasceu o filho Roberto Emílio.

Enquanto Maurício trabalhava na gerência de grande empresa, Georgina dava aulas de francês a educadas moças paulistas. Assim, aprendeu razoavelmente o português. Dando-se mal com o clima, decidiram embarcar para o sul.

Em 1894, atendendo a um convite do governo da Argentina, por mar, dirigiram-se a Buenos Aires, onde dona Georgina iria assumir a direção do Conservatório de Belas Artes. No Porto de Paranaguá, houve, porém, um desarranjo na hélice do navio. Então, enquanto aguardavam os consertos (a peça substituta demoraria entre 50 a 60 dias para vir do Rio de Janeiro), Georgina e Maurice foram até Curitiba. Lá, em contato com os curitibanos, houve simpatia mútua e decorrente valorização dos predicados de ambas as partes. Georgina pôs-se em contato com os corpos docente e discente da Escola de Belas Artes do Paraná, na época, sob a direção do dr. Mariano Lima que, encantado com a culta visitante, apresentou-a ao governador do Estado, José Pereira dos Santos Andrade. Este, por sua vez, convidou-a com insistência para ficar em Curitiba dirigindo os cursos de desenho, pintura, canto e música daquela escola. Artista verdadeira e professora inata, vivia saudosa do ambiente cultural e da grande cordialidade que sempre fruira em Paris; assim, de acordo com o marido, aceitou os cargos que lhe ofereciam. Maurício, como agrimensor e desenhista, fora encarregado da medição de grandes propriedades no interior do estado.

Georgina despertava atenção o seu porte esbelto, iluminado por grandes olhos azuis e a refinada educação européia. Não era somente professora, mas, principalmente, uma grande educadora, reunindo os altos predicados de inteligência, argúcia, austeridade com benevolência, serenidade com perseverança, paciência com capacidade de estimular e devotamento pelo ensino (cf. Mongruel, 1974). Devotou-se ao magistério e às atividades culturais. No setor do ensino abriu clareiras e fundou educandários, o Colégio Paranaense, na praça Osório, em 1916, é um exemplo. Lecionou na Escola de Belas Artes e na Escola Americana

Foi correspondente assídua dos periódicos de Paris, Bélgica, Argentina, Uruguai, Rio de Janeiro e Curitiba. Deixou copiosa colaboração literária nos jornais e revistas: Fanal[1], A Notícia, Diário da Tarde, Almanaque do Paraná, O Olho da Rua, O Cenáculo, Victrix, Escrínio, Fon-Fon, entre outros. Aí, está registrada parte da vasta atividade intelectual desenvolvida por Georgina, não apenas no domínio da poesia, como através de crônicas, crítica de arte e prosa memorialista. Andrade Muricy (1926), aliás, a destaca como escritora grande conhecedora da poesia francesa, do esoterismo e da música, atualizada sobre os movimentos artísticos europeus.

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1922 (aos 61 anos), onde continuou sua lida no magistério, lecionando no Colégio Anglo-Americano e no Curso de Secretariado Feminino. No entanto, nunca se desligou do Paraná, ao qual sempre protestou reconhecimento e carinho pelos vinte e sete anos de convivência prazerosa, considerava-se curitibana por adoção.

Faleceu em 26 de dezembro de 1953, aos 92 anos, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal.

 



[1] Donde era colaboradora , desde os anos 1912-13, ao lado dos fundadores: Dario Vellozo, Silveira Neto e Emiliano Perneta.