|  
                
                 
              Maria Cândida de
              Jesus Camargo  
                  
                
              Textos:
              
               
              O DUETO
              
              
               
              
              
              
               
              De
              madressilvas, ramos flutuantes
              
               
              Adornavam
              as janelas de festões,
              
               
              Ouvia-se
              de um piano os sons vibrantes
              
               
              De
              um harmonioso dueto, as variações.
              
               
               
              
               
              De
              vozes juvenis suaves e amantes,
              
               
              Produzindo
              alegres sensações
              
               
              Em
              acordes sonoros e cantantes
              
               
              Seguindo
              musicais modulações.
              
               
               
              
               
              Diáfano
              brilho  iluminava a
              sala
              
               
              Como
              se a luz do sol em grande gala
              
               
              Viesse
              aplaudir afável, com agrado,
              
               
               
              
               
              O
              mavioso dueto matinal
              
               
              Que
              do sol, ao afago festival
              
               
              Talvez
              fosse o prenúncio de um noivado.
              
               
               
              
               
              QUEIMADAS
              
              
               
              
               
              Torna-se
              o ar de todo enfumaçado
              
               
              Pelas
              queimadas recentes? Na vivenda
              
               
              Reúnem-se
              os campeiros  no
              alpendrado,
              
               
              Para
              o repouso  e a frugal
              merenda.
              
               
               
              
               
              Fumam,
              conversam, e um diz: Bem embrulhado
              
               
              Está
              o negócio da compra da Fazenda
              
               
              E
              o outro responde: Certo, o advogado
              
               
              Vem,
              afim de impedir que haja contenda.
              
               
               
              
               
              As
              mulheres escutam, e sorrindo
              
               
              A
              mais velha observa — indo e vindo:
              
               
              E
              não se apoquentar, pôr-se de fora
              
               
               
              
               
              Fala
              o dono  da casa: — A
              prosa é boa,
              
               
              Mas
              voltemos ao campo, e vê patroa
              
               
              Se
              nos manda o café, que está na hora.
              
               
               
              
              
              
               
              SAUDADE
              
              
              
              
              À memória de minha querida e sempre
              pranteada amiga, Laura Alves Carneiro, falecida a 25 de março  de 1888 em Imbituva, Estado do Paraná, aos 17 anos de idade.
              
               
               
              
               
              Lamentos,
              prantos, pesar e martírio
              
               
              Lembrando
              a morte dessa virgem casta,
              
               
              Levou-a
              Deus e ela está no empíreo
              
               
              Longe
              dos males que a existência arrasta
              
               
               
              
               
              Ah!
              Flor modesta que a terrestre veiga
              
               
              Amenisaste
              como aroma puro,
              
               
              Ah!
              Quem pudera ao ver-te alegre e meiga
              
               
              Adivinhar
              o teu fim prematuro.
              
               
               
              
               
              Um
              golpe imenso ao coração materno,
              
               
              Urna
              que guarda inexaurível dor,
              
               
              Unindo 
              sempre ao sentimento eterno
              
               
              Um
              canto amargo de saudade e amor!
              
               
               
              
               
              Resignar-se?
              Que palavra fria
              
               
              Resta
              a uma alma angustiada assim...
              
               
              Resignar-se!
              Se a morte sombria
              
               
              Roubou-te 
              ó flor, p´ra o celestial jardim:
              
               
               
              
               
              Ah,
              mas quem sabe, se um mandado augusto
              
               
              Altos
              mistérios do poder de Deus,
              
               
              Arrebatou-te
              a um destino injusto
              
               
              Asas
              te enviando para voar aos céus.
              
               
               
              
               
              .........................................................................
              
               
               
              
               
              Não;
              não choremos; ela foi ditosa
              
               
              Virgínea
              rosa encantadora e casta,
              
               
              Deus
              transplantou-a aos cerúleos 
              vales.
              
               
              Longe
              dos males que a existência arrasta.
              
               
               
              
               
              Deixou
              o tredo labirinto escuro,
              
               
              Já
              o futuro a não assombra mais,
              
               
              Ave
              inocente, procurou asilo
              
               
              Almo
              e tranqüilo onde  não
              se ouvem ais.
              
               
               
              
               
              E
              no entanto a saudade infinita
              
               
              Meu
              peito agita, cruciante, atroz!
              
               
              Enfebrecido
              o pensamento foge
              
               
              Um
              canto hoje, ah que me dera voz!
              
               
               
              
               
              Se
              não me esqueço dos passados dias
              
               
              Das
              alegrias que o seu lar perdeu!
              
               
              Tudo
              que vejo, tudo quanto existe
              
               
              Recorda
              triste, que ela já morreu.
              
               
               
              
               
              Morreu
              criança, abandonou a terra,
              
               
              Lodo
              que aterra, a quem aspira à luz,
              
               
              Foi
              tão amável inocente e boa
              
               
              Áurea
              coroa, lhe dará Jesus!
              
               
               
              
               
              A
              CANTIGA SERTANEJA
              
              
               
              
              
              
               
              Na
              toada da cantiga sertaneja
              
               
              Ao
              som dolente  que a
              viola acompanha
              
               
              Uma
              queixa talvez o quer que seja
              
               
              De
              um oculto sentir, a força estranha
              
               
               
              
               
              Que
              a alma simples interpretar deseja
              
               
              De
              indefinível nota mágoa tamanha,
              
               
              Que
              se revela em ais! Quando negreja
              
               
              A
              noite, que às vezes na mata o acompanha
              
               
               
              
               
              Quando 
              à procura d´um perdido animal
              
               
              A
              ventania o assombra no mundo florestal,
              
               
              Ou
              quando no rio joga o anzol aos peixes
              
               
               
              
               
              Que
              magia o inspira, encoraja e consola?
              
               
              —   
              A mulher e os filhos e o cantar da viola
              
               
              “Meu
              bem fugiu...”    “O
              sabia morto“  o 
              “Não me deixes” 
              
               
               
              
               
               
              
               
               
              
               
               
              
               
               
              
               
                
               |